Dirigir é um evento: cuide da vida!
Mais um feriado natalino se aproxima; logo teremos outros: fim de ano, carnaval, Páscoa,
Corpus Christi e, com eles, a dura realidade das tragédias no trânsito.
Milhares de pessoas perderam a vida em 2010 e a carnificina infelizmente vai continuar em
2011. Vidas abruptamente ceifadas; jovens, crianças e adultos vão perecer em alguma avenida, rua
ou rodovia deste país, quase sempre pela inconsequência de um motorista que dirigia com
imprudência, excesso de velocidade ou embriagado. Dentro do seu próprio automóvel ou moto, cada
um tem se transformado em um assassino autoproclamado, sem se importar com a vida dos outros,
com os danos materiais, e, menos ainda, com aquilo que é mais importante: viver cada instante e
fazer da viagem um momento único de responsabilidade e de lazer, mesclando a atenção redobrada
com a tranquilidade de viajar e estar com a família ou com os amigos, ao mesmo tempo em que se
aprecia a beleza das paisagens (o clima, a vegetação, o ar, o relevo).
Dirigir é um evento; é uma responsabilidade com a minha vida e com a dos outros; não é
uma ação comum. Para isso é preciso preparar-se, planejar-se: desde os objetos de uso pessoal até os
cuidados com os itens de segurança do carro (mecânica, pneus, acessórios). Tudo isso deve ser
checado antes de toda e qualquer viagem, curta ou longa.
É preciso estar ciente dos perigos. Entra ano e sai ano, e os dados tem demonstrado que o
acidente de trânsito já é a primeira causa de mortes no mundo, à frente da aids, da tuberculose e da
violência. A quantidade de vítimas oferecidas em sacrifício nas estradas é maior também que a de
todos os atos terroristas do mundo, os assaltos e assassinatos juntos.
Parecemos estar acostumados com esta triste realidade e achamos tudo isso “normal”.
Apenas no ano de 2010, foram ceifadas mais de 37.000 vidas, e mais de 120 mil tiveram lesões
graves, a maioria condenada à invalidez (dados: Ipea/Denatran/ANTP). É uma batalha explícita e
declarada: na guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, por exemplo, 109 mil pessoas foram
mortas de 2003 a 2009 (site Wikileaks.org); cerca de 18 mil mortes por ano. O trânsito brasileiro
mata mais que o dobro disso anualmente (102 pessoas por dia; 5 vítimas por hora). De 2002 a 2008
morreram (no Brasil) 247.430 pessoas (dados: Centro de Estudos Automotivos – Cesvi). Mais da
metade dos atendimentos em hospitais é de vítimas de acidentes: em 2009 o índice foi de 45% e até
Os gastos gerados pelos acidentes nas estradas chegam ao exorbitante montante de R$ 22
bilhões por ano, ou cerca de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados divulgados pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Considerando o resgate, tratamento, perdas de
produção e materiais, as despesas podem chegar a R$ 34 bilhões por ano. Isso equivale a mais da
metade de todo o orçamento anual do Ministério da Saúde.
Vemos automóveis modernos, superpotentes, de primeiro mundo, andando apressadamente
em rodovias de terceiro mundo (sem conservação, sem terceira via, sem sinalização), tendo ao
volante, geralmente, motoristas estressados ou mesmo recalcados, fazendo de cada ultrapassagem
uma pequena vitória, parecendo representar os fracassos em suas emoções ou mesmo na profissão.
O Brasil ocupa, hoje, a quinta posição mundial em quantidade absoluta de fatalidades no
trânsito, depois da Índia, China, EUA e Rússia. Conforme pesquisa divulgada pelo IBGE este ano,
em diversos Estados brasileiros o trânsito já mata mais do que a violência interpessoal (dados:
Se sérias providências não forem tomadas, nos próximos quatro anos morrerão, em ruas e
estradas do Brasil, mais 160 mil pessoas, e mais 720 mil serão hospitalizadas, o que representará um
custo de R$ 136 bilhões ao país. A faixa etária dos mortos concentra-se entre os indivíduos que tem
entre 15 e 29 anos. Outro dado apresentado foi a relação do acidente de trânsito com a falta do cinto
de segurança. Segundo a rede hospitalar, no primeiro semestre de 2010 45% dos condutores de
veículos vítimas de acidentes não usavam o cinto. Já entre os passageiros do banco dianteiro, 59%
das vítimas estavam sem o equipamento, número que aumentou para 81% quando se tratavam dos
ocupantes do banco traseiro, conforme informou a assessoria de imprensa do Departamento
A civilidade no trânsito passa por uma mudança cultural e de atitudes. O Estado e a
sociedade civil não podem ficar omissos: educação, políticas de prevenção e fiscalização, e até
mesmo multas punitivas contra motoristas infratores, não podem ser a exceção, mas a regra.
Campanhas de conscientização não podem ser práticas de uma “semana do trânsito” ou uma lei que
é esquecida em alguns meses. Somente com uma campanha integrada minimizaremos os impactos
humanos e materiais decorrentes da guerra do trânsito. Ninguém merece morrer no trânsito, fique
Referências
BETO, Frei. Trânsito para a morte. Disponível em: http://www.brasildefato.com.br/node/5112.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito
nas rodovias brasileiras - Relatório Final – Brasília: Ipea/Denatran/ANTP, 2006.
ENZENSBERGER, Hans Magnus. Mediocridade e loucura. São Paulo: Editora Ática, 1995.
MARINOFF, Lou - Mais Platão, Menos Prozac: a filosofia aplicada ao cotidiano. Rio de Janeiro:
http://blog.primeiramao.com.br/index.php/2010/05/19/onu-lana-dcada-de-combate-a-acidentes/.
http://noticias.terra.com.br/brasil/transito/noticias/0,,OI4809021-EI998,00-
Vitimas+de+transito+somam+dos+atendimentos+hospitalares.html. Acesso em novembro de 2010.
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