Os ambulantes e as zonas de exclusão da Fifa Andrea Dip fonte: http://apublica.org/2012/04/copa-nao-e-para-pobre-os-ambulantes-zonas-de-exclusao-da-fifa/ Documento inédito faz mapeamento da situação dos vendedores ambulantes no país e mostra que
eles já têm sido afetados pelos preparativos para a Copa. E a Fifa fala sobre suas zonas de exclusão Durante as Olimpíadas de 1988 em Seul, os vendedores ambulantes foram removidos das ruas
principais e colocados atrás de paredes e becos, como parte do processo de higienização da cidade.
Nas Olimpíadas de 1992 em Barcelona, o comércio de rua foi completamente proibido*. Na África do
Sul, o estatuto da Fifa vetou o comércio informal perto de edifícios públicos, igrejas, caixas eletrônicos
e das áreas oficiais de exclusão da Fifa – ou “áreas de restrição comercial” como preferem chamar –
que, diferentemente do que se pensa, não se restringe apenas ao entorno dos estádios mas também
aos locais de eventos oficiais da Fifa (que incluem as fan parks, grandes festas de torcedores
geralmente montadas nos centros das cidades ou em praias), centros de credenciamento, áreas
oficiais de treinamento, hotéis onde as delegações dos países e as equipes da Fifa estão
hospedadas, dentre outros. Na África, qualquer comércio não autorizado era proibido em um raio de
100 metros destes locais (2 km no caso dos estádios). Também foi expressamente proibido o uso de
uma lista interminável de termos relacionados à Copa, Fifa e futebol, como a Pública mostrou no
documentário Trade Mark 2010, do jornalista Rudi Boon. No Brasil os camelôs fazem parte da cultura. Não dá para imaginar São Paulo sem a 25 de Março ou
Salvador sem as incontáveis barraquinhas de pulseirinhas, acarajés e artigos importados. Cada
cidade tem sua feira típica, sua concentração de barraquinhas famosa. Tem até aquela música do
João Bosco: “Veio o camelô vender anel/Cordão, perfume barato/ Baiana vai fazer pastel/E um bom
churrasco de gato”. Mas o comércio informal não faz parte dos planos do país para o megaevento. A Lei Geral da Copa, aprovada na Câmara dos Deputados no dia 28 de março e que espera
aprovação no Senado, diz no artigo 11 que: “A União colaborará com os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios que sediarão os Eventos e com as demais autoridades competentes para assegurar à
Fifa e às pessoas por ela indicadas a autorização para, com exclusividade, divulgar suas marcas,
distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços, bem como outras
atividades promocionais ou de comércio de rua, nos locais oficiais de competição, nas suas
imediações e principais vias de acesso”. Diz ainda que “os limites das áreas de exclusividade
relacionadas aos locais oficiais de competição serão tempestivamente estabelecidos pela autoridade
competente, considerados os requerimentos da Fifa ou de terceiros por ela indicados, atendidos os
requisitos desta Lei e observado o perímetro máximo de 2 Km (dois quilômetros) ao redor dos
referidos locais oficiais de competição”. Isso significa que a Fifa deve negociar estas áreas
diretamente com os municípios. A Pública entrou em contato com as prefeituras das 12 cidades que
sediarão a Copa, mas ainda não há nada acertado em nenhuma delas. Por e-mail, a assessoria de
imprensa da Fifa confirmou que as zonas de restrição comercial se estendem a hotéis, centros de
mídia, etc. e o que mais entender como perímetro de segurança. Mas garante que o comércio regular
dentro desses perímetros “poderão trabalhar com as marcas que já trabalham se não estiverem
visando o evento ou seus espectadores” – algo bem difícil de comprovar. Também explica que “não
vai comentar sobre o projeto de lei 2014, por ser um processo em curso”. Para Érick Omena, pesquisador do Observatório das Metrópoles, há uma falta de clareza na lei e em
todo o processo que envolve a Copa no Brasil. Ele acredita que este “pacote” de decisões delegado
aos municípios é um cheque em branco, pois transfere poder aos seus governantes: “Eles ganham
poder de barganha com a Fifa e com os comerciantes. Uma simples decisão como esta desencadeia
vários processos. O modus operandi da política municipal é muito voltada para o clientelismo e
fatalmente estas decisões vão passar por isso”. Érick também avalia dois problemas potenciais nas
zonas de exclusão: “O primeiro é o da soberania nacional sobre o território. Está sendo delegado o
controle territorial à entidades privadas e isso é muito grave. A Fifa e suas empresas parceiras vão
assumir o poder sobre trechos do território brasileiro, inclusive criando tribunais especiais para julgar
os delitos criados por uma legislação de exceção. O segundo é o da exclusão dos comerciantes que
não poderão vender nada relacionado à Copa. Quanto aos ambulantes nem se fala, já existe uma
cultura de repressão a eles há décadas. Certamente isso vai ser agudo no período da Copa do
Mundo”. A StreetNet internacional – aliança de organizações de vendedores informais de diversos países,
fundada em 2002 na África do Sul, realizou uma pesquisa preliminar em dez das 12 cidades que
sediarão os jogos da Copa de 2014 para avaliar o impacto potencial sobre os ambulantes. Além de
levantamento de dados, foram feitas diversas entrevistas com lideranças de vendedores informais,
representantes do movimento sindical, de movimentos sociais e de organizações não-governamentais
reunidos no documento “Copa do Mundo para Todos – O retrato dos vendedores ambulantes nas
cidades-sede da Copa do Mundo de 2014”, que a Pública apresenta aqui em primeira mão. O objetivo da Streetnet é contribuir para a mobilização e organização dos vendedores informais para
o estabelecimento de redes municipais e de fóruns de negociação nas cidades-sede dos jogos. O
estudo traz um panorama da situação atual dos vendedores ambulantes no Brasil, mostrando quem
são, o que querem e como serão afetados pelo megaevento de 2014. Enquanto muitos nem sabem
da existência das zonas de exclusão, outros já se articulam e até se reuniram em um Fórum
convocado pela StreetNet no fim do ano passado para se articular. Do encontro saiu uma nota de
repúdio com o título: “Outra Copa do Mundo é possivel: Respeitando os direitos dos (as) vendedores
(as) informais”. Entrevistada, uma liderança carioca disse: “Copa não é para pobre porque a
população não vai ganhar com o evento e certamente o ambulante vai sofrer muito, como ocorrido
nos jogos Pan-americanos”. O relatório da Streetnet ressalta que “nas cidades estudadas, desde o início de 2011, diversas
prefeituras têm revogado unilateralmente as permissões de comerciantes de rua, principalmente
dentro desses perímetros que tendem a ser espaços cedidos à FIFA durante a Copa”. E mostra também que há falhas e falta de articulação entre as leis municipais e federais que emitem
licenças aos trabalhadores informais e que na grande maioria das cidades a solução encontrada pelo
poder público é o de realocar os vendedores para shoppings populares longe dos centros e das vistas
do público. Especificamente sobre os preparativos para a Copa, o documento diz que “as cidades que
hospedarão jogos da Copa do Mundo vêm passando por um processo de gentrificação, fortemente
relacionado à produção da assepsia urbana, como forma de adequação das cidades ao megaevento
e sua formatação como Cidades Globais” e aponta que a falta de informação sobre o megaevento é
tão grande que muitos ainda vêem com otimismo a chegada dos jogos à cidade, sem sequer ter
ouvido falar em zona de exclusão. Nora Wintour, coordenadora de campanha da StreetNet que acompanhou a Copa na África do Sul,
diz que a falta de informação é característica dos eventos da Fifa: “Acredito que ao menos 100 mil
ambulantes foram afetados pelas zonas de exclusão e fan parks. Mas somente na metade de 2009
(menos de um ano antes da Copa da África do Sul, portanto) os ambulantes ficaram sabendo do que
iria acontecer. Por isso não houve tanta mobilização”. Ela conta que com as campanhas de
divulgação, incluindo a da própria StreetNet e temendo a má publicidade, a Fifa disse que habilitaria
vendedores ambulantes para atividades oficiais especiais: “Nunca vimos isso acontecer”. Veja um resumo do que diz o documento sobre cada uma das cidades pesquisadas: Belo Horizonte De acordo com a pesquisa, a cidade conta hoje com cerca de 25.000 vendedores informais: 47,8%
apresenta uma renda próxima a um salário mínimo e 32% ganha de um a dois salários. Os
trabalhadores já enfrentam impactos gerados pelas reformas para a Copa, com destaque para os
que trabalhavam perto do Mineirão: “Cerca de 130 famílias foram atingidas com o fechamento do
Estádio do Mineirão, sede dos jogos da Copa em Belo Horizonte. Na cidade mineira, os dois
principais estádios foram fechados ao mesmo tempo para a realização de reformas. Os jogos dos
times que participam do campeonato nacional de futebol foram transferidos para outras cidades do
estado, dificultando o trabalho dos ambulantes. Durante a redação dos relatórios de impacto social da
obra de reforma do Mineirão, ressaltou-se a necessidade de realocação dos feirantes – que
chegavam a trabalhar três dias por semana no comércio durante os jogos e eventos realizados no
estádio e tinham esta atividade como sua principal fonte de renda. Um ano depois, os vendedores
continuam sem nenhuma política de compensação pela perda da renda. Brasília Em Brasília, a maior concentração de camelôs era ao redor da Rodoviária do Plano Piloto 21. Alguns
conseguiram licença para comprar quiosques dentro da rodoviária e o restante foi transferido para
shoppings populares. A maior reclamação sobre os shoppings – na maioria das cidades – é a de que
ficam longe do fluxo de pessoas. Segundo dados apresentados no documento, os quiosques e
trailers proporcionam emprego direto a 60 mil pessoas e indireto a cerca de 100 mil pessoas em
Brasília. Mesmo dizendo que ainda não estão sentindo os impactos da Copa de 2014, os vendedores
já tiveram que arcar com a construção de novos quiosques, impostos pela necessidade de
revitalização da cidade para o megaevento: “Estes vendedores tiveram que arcar com a edificação
(…) se endividando através de empréstimos facilitados pela Associação Comercial do Distrito
Federal”. Cuiabá O comércio informal em Cuiabá, segundo a pesquisa, se caracteriza por uma divisão nítida entre
camelôs e artesãos. Os camelôs estão estabelecidos principalmente nas calçadas e e em dois
shoppings populares. Já os artesãos ficam nas praças, em feiras que acontecem em dias
determinados. Segundo números da prefeitura de Cuiabá, cerca de 400 vendedores ocupam o
entorno da Praça Ipiranga, no centro da cidade, e são as obras de mobilidade urbana nessa área que
apresentam maior potencial de impacto sobre os vendedores de rua. A construção de corredores de
ônibus, que implica no alargamento de vias e redução dos espaços destinados às calçadas, não
deixa espaço para as barracas dos vendedores informais. Além disso, a revitalização do entorno tem
como um dos objetivos a retirada desses ambulantes, amparada na legislação municipal que não
Fortaleza “O comércio informal no centro tornou-se referência e foi se estabelecendo cada vez mais como saída
para os trabalhadores urbanos que precisam de uma atividade para sobreviver” explica o documento.
A atividade também aparece com destaque em outras áreas da cidade mas, no centro, a feira da
praça da estação tem cerca de 1.200 ambulantes cadastrados. As obras para a realização da Copa
do Mundo, além do centro, atingem áreas como a Av. Beira Mar e a Praia de Iracema. Os ambulantes
que trabalhavam ao redor do estádio Castelão (em reforma) já tiveram de mudar de local. Os
trabalhadores de outros pontos turísticos e públicos se dizem preocupados com a ameaça de
desemprego por causa das zonas de exclusão e da fiscalização dos artigos falsificados. Há grande
falta de informação, segundo o documento, dificultando a compreensão do que de fato irá acontecer. Manaus Em Manaus é possível encontrar vendedores ambulantes em diversos locais da cidade, como o
centro, a área portuária e em pontos turísticos. Além das bancas, há os “carros camelôs”. Segundo
dados do texto, existem 4,8 mil ambulantes na cidade de Manaus, sendo 2,5 mil deles estabelecidos
no centro, especialmente nas redondezas da Praça Matriz. Na gestão atual, como coloca o
documento da StreetNet, existe um projeto de revitalização chamado “Centro Vivo 28” e os
ambulantes não fazem parte dos planos. Eles dizem que não sabem o que poderá acontecer durante
a Copa do Mundo porque não receberão informações. Porto Alegre Apesar de não haver estatísticas públicas oficiais sobre o número de vendedores informais na cidade,
estimativas de lideranças populares apontam que em 2007 havia cerca de 4 mil na região central da
cidade. O texto da StreetNet diz que especialistas do Observatório das Metrópoles de Porto Alegre
entendem que a construção de um camelódromo na cidade é parte de um projeto de higienização e
exclusão da população de baixa renda dos pontos turísticos para a Copa do Mundo. Existe também a
preocupação com um pequeno bolsão de ambulantes do Parque da Marinha, que é bastante próximo
do estádio Beira Rio e com vendedores de lanches e bebidas do entorno dos estádios “que serão os
principais prejudicados pela zona de exclusão prevista pela FIFA”. Natal A zona leste de Natal, considerada centro da cidade, além de dispor de diversos comércios, serviços
e prédios governamentais, é uma área caracterizada por forte presença de trabalhadores da
economia informal, sejam eles ambulantes, camelôs, trabalhadores de quiosques, entre outros. A
pesquisa aponta que estão cadastrados 1.600 ambulantes, 1548 feirantes e 222 boxes de mercado.
Sobre o impacto da Copa, há grande desinformação e descontentamento por parte dos vendedores
de rua. Estima-se que 670 famílias serão afetadas no projeto inicial. Muitos dos que vendiam nas
proximidades dos estádios tiveram que mudar de local de venda por causa das obras para o
megaevento. Rio de Janeiro As lideranças de vendedores de rua calculam a existência de 60 mil ambulantes no município. Um
levantamento feito pelo Movimento Unido dos Camelôs (MUCA) em 2009 apontou no centro 6 mil
vendedores informais chamados de “pulo”, aqueles que vendem a cada dia num local diferente, não
possuem ponto fixo e que são caracterizados por exporem suas mercadorias em uma estrutura de
venda que é fácil de desmontar para que possam escapar da fiscalização. O relatório explica que o principal impacto causado pela Copa, é o “estado de exceção” que vigora
desde os preparativos do megaevento, permitindo que projetos sejam realizados sem controle social,
ignorando a violação de direitos sociais, atingindo também vendedores de rua. O governo expulsou
ambulantes do entorno do Maracanã para execução das obras de reforma e a expectativa das
lideranças populares é que os comerciantes informais que costumavam vender na região antes da
obra não sejam autorizados a voltar quando a reforma for concluída. As organizações de vendedores
ambulantes e artesãos preocupam-se com a atitude das autoridades municipais durante a Copa. Os
vendedores de feiras de artesanato da orla dizem já sofrer com eventos esportivos menores, quando
são impedidos de montar a feira. Salvador Em Salvador, até o fechamento do relatório, não havia muitas obras de infraesturura, com exceção da
reforma do estádio Fonte Nova, local onde ocorrerão os jogos da Copa na cidade. Os vendedores
que antes trabalhavam neste local, hoje exercem suas atividades no outro estádio da cidade e não se
sabe quais seriam as possíveis remoções. Há projetos de alargamento de vias no centro da cidade
que farão com que o espaço disponível para a colocação de barracas e bancas sejam diminuído e
projetos de realocação dos vendedores de rua da cidade, hoje presentes em grande quantidade em
ruas importantes. Caso haja a remoção maciça destes vendedores, o número de afetados pode
ultrapassar a marca de 12 mil famílias, número aproximado de vendedores de rua presentes nos
principais bolsões de camelôs, segundo as associações entrevistadas. São Paulo Entre 2009 e 2010 existiam 158 mil vendedores ambulantes em São Paulo segundo a pesquisa.
43,1% tinha renda mensal de até um salário mínimo. Em média, os vendedores trabalham 40 horas
semanais na cidade. “O cenário é de total intimidação dos vendedores informais por parte da
prefeitura. (…) Através do convênio que a prefeitura estabeleceu com a polícia militar na chamada
‘Operação Delegada’ e diminuiu em 91% o número de licenças” diz o texto. Na análise da StreetNet,
o principal desafio colocado aos vendedores informais no enfrentamento da exclusão social da Copa
é que as organizações representativas são fragmentadas e algumas acreditam e mantém uma
relação de clientelismo com vereadores. Para a organização, é necessária a articulação de uma rede
capaz de enfrentar as ações arbitrárias da prefeitura e, na Copa, da FIFA. *Fonte: Implications for Street Traders of the 2010 Soccer World Cup in South African Host Cities By
Patrick O’Cal aghan Colaborou Jessica Mota http://apublica.org/2012/04/copa-nao-e-para-pobre-os-ambulantes-zonas-de-exclusao-da-fifa/
Patents: Protecting Inventors and the Public Good “In a world in which science is a rich-country prerogative while the poor continue to die, the niceties of intellectual property rights are likely to prove less compelling than social realities.” —Jeffrey Sachs, economist and director of the Earth Institute at Columbia University1Every year U.S. companies charge thousands of dollars
LOS ACTOS DE CONFUSIÓN E IMITACIÓN EN EL PROYECTO DE LEY POR EL QUE SE MODIFICA EL RÉGIMEN LEGAL DE LA COMPETENCIA DESLEAL. El presente trabajo tiene por objetivo exponer de una forma crítica el contenido de la reforma de los actos de confusión e imitación que se contiene en el Proyecto de Ley por el que se modifica el régimen legal de la competencia desleal y de la publicidad para la