Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307 EFEITO DA APLICAÇÃO VAGINAL DE AGENTES DILATADORES DO CÉRVIX DURANTE A FASE FOLICULAR DO CICLO EM OVELHAS EFFECTS OF INTRAVAGINAL APPLICATION OF CERVICAL DILATATION AGENTS DURING OESTROUS FOLLICULAR PHASE IN EWES
J.P. Barbas, S.C. Gonçalves, C.C. Marques, A.E.M. Horta
Departamento de Reprodução Animal, Estação Zootécnica Nacional -INIA, 2000-763 Vale de
Pretendeu avaliar-se o efeito da aplicação vaginal de agentes dilatadores do cérvix,
sobre o relaxamento muscular e dilatação do colo uterino de ovelhas em estro, visando uma
melhor progressão espermática após a inseminação artificial (IA). Setenta e sete ovelhas
cíclicas foram submetidas a um tratamento de sincronização do estro e indução da ovulação. Em
56 ovelhas, foram utilizados os seguintes tratamentos: testemunha (n=17), o antagonista da
progesterona (P4) aglépristone (n=8), um preparado comercial de ocitocina (n=7), o análogo sintético da prostaglandina E1 (PGE1) misoprostol (n=4), o agonista dos receptores β -
adrenérgicos sulfato de terbutalina (n=6) e a associação misoprostol + terbutalina (n=14), todos
eles administrados por via vaginal e depositados próximo do os cervical. Os tratamentos foram
realizados 36 e 56 horas após a remoção das esponjas (REV), após o que se avaliou a
penetrabilidade cervical aos 0, 15, 30, 60, 90 e 120 minutos com um estilete. Na avaliação
realizada 56 horas após REV não foram considerados os dois últimos registos.
A penetrabilidade cervical ao longo do tempo, só registou aumentos significativos entre a
leitura inicial e as restantes, no grupo misoprostol + terbutalina, quer às 36 h (22,5 vs. 23, 23,4,
23,5, 23,6 e 23,6 cm, P<0,05), quer às 56 h (22,9 vs. 23,6, 24 e 24,2 cm, P<0,05).
Relativamente ao grupo testemunha, o aglépristone foi único tratamento isolado que provocou
um aumento significativo da penetrabilidade e somente aos 15 minutos na sessão das 36 horas
(23,5 vs. 22,5 cm, P<0,05). A associação misoprostol + terbutalina apresentou aumentos
significativos relativamente à testemunha, em todas as leituras com excepção da inicial, às 36 h
e às 56 horas. Nos animais pertencentes aos vários grupos em estudo (n=56), não foram
observadas diferenças significativas relativamente ao intervalo remoção das esponjas vaginais pico de LH, cujo intervalo médio foi de 46,13 ± 7,57 horas. O misoprostol, a terbutalina e a sua
associação não afectaram as características seminais in vitro. O sémen tratado com misoprostol
apresentou um valor médio (leituras aos 0, 30 e 60 minutos) de 59% de espermatozóides (spz)
vivos e 66,3% de spz móveis, que não foram diferentes dos observados no sémen testemunha
(69,2% e 66,6%, respectivamente). O tratamento do sémen com terbutalina não conduziu
igualmente a diferenças significativas, quer para a % de spzs vivos (78% vs. 74,2%), quer
móveis (67% vs. 65,7%). A associação dos dois fármacos (misoprostol mais terbutalina) não
influenciou significativamente qualquer dos parâmetros em estudo, tendo a % média de spz
vivos e a % média dos spz móveis sido de 76% e 65% no grupo tratado e de 77% e 66,3% no
testemunha. Daqui concluiu-se que as drogas utilizadas são inócuas quanto às características seminais avaliadas. A associação de um β -agonista e da PGE1 provoca um aumento da
penetrabilidade cervical sem afectar as características seminais in vitro.
This study was conducted to determine the effect of intravaginal application of cervical
ripening agents on estrous sheep cervical softening and dilatation, envisaging the efficient
sperm transport throughout the uterus into the oviducts after artificial insemination (IA).
Seventy-seven (77) ewes were submitted to estrous synchronization treatments. Fifty-six (56)
animals were then assigned to the following treatment groups: Control (n=17), progesterone
antagonist aglépristone (n=8), oxytocin (n=7), synthetic prostaglandin E1 analogous misoprostol (n=4), β -adrenergic receptor agonist terbutalin sulphate (n=6) and the association Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307
misoprostol+terbutalin (n=14). All the products were given intravaginally into the cervical os at
36 and 56 hours after pessary removal (REV). Depth of cervical penetration (cm) with a
graduated stainless steel rod was measured at 0, 15, 30, 60, 90 and 120 minutes after each
treatment. The two last measurements at 56 hours after REV were not considered.
Depth of cervical penetration increased significantly along measurements in group misoprostol+terbutalin, either at 36 hours (22.5 vs. 23, 23.4, 23.5, 23.6 and 23.6 cm; P<0,05) or
56 hours (22,9 vs. 23,6, 24 and 24,2 cm, P<0,05) post REV. At 36 hours post REV, aglépristone
group showed significantly higher values of cervical penetration at 15 minutes than control (23,5 vs. 22,5 cm; P< 0,05). Except at 0 minutes, misoprostol+terbutalin treatment either at 36 or 56
hours after REV significantly induced deeper cervical penetration than control group. There were
no significant differences in the interval from REV to LH surge among all groups (46.13 ± 7.57
hours). Neither misoprostol, terbutalin or their association affected in vitro sperm
characteristics. Sperm treated with misoprostol presented live sperm (59%) and motility (66.3%)
rates not significantly different from control group (69.2 and 66.6%, respectively). Treatment
with terbutalin did not affect live sperm (78 vs.74.2% in control group) and motility (67 vs. 65.7
% in control) rates, neither did treatment with misoprostol+terbutalin (76 vs. 65% for live sperm
and 77 vs. 66.3% for motility rates, in treated and control groups, respectively). These results suggest that the drugs do not influence sperm characteristics. The association of a β -agonist
and PGE1 induces an increase on cervical penetration during estrus in ewes without affecting in INTRODUÇÃO
Um dos problemas identificados com o insucesso da inseminação artificial em ovinos
prende-se com a insuficiente abertura do cérvix, impedindo que o pistolet de inseminação o
transponha e que o sémen seja depositado no útero. Quando o sémen (refrigerado) é depositado
à entrada do os cervical, só são conseguidas taxas de gestação aceitáveis à custa de uma
maior concentração espermática na palhinha de inseminação (400-600 milhões) ou através de
Este trabalho teve por objectivo avaliar o efeito da aplicação vaginal de um análogo da
prostaglandina E1 (misoprostol), de um β -agonista (sulfato de terbutalina), da ocitocina e de um
antagonista da progesterona (aglépristone) sobre o relaxamento muscular e dilatação do colo
uterino de ovelhas em estro, visando o flanqueamento do cérvix no momento da inseminação
artificial para permitir a deposição do sémen no corpo uterino e/ou uma melhor progressão
MATERIAL E MÉTODOS
1. Animais e maneio: Este trabalho decorreu na Estação Zootécnica Nacional no Vale de
Santarém. Foram utilizadas 77 ovelhas adultas multíparas, cíclicas, da raça Serra da Estrela,
mantidas em boa condição corporal ao longo do ano. A dieta fornecida teve por base a silagem
de milho, alternando com períodos de pastoreio na dependência da disponibilidade de erva.
2. Tratamentos: Só se utilizaram ovelhas cíclicas através da informação fornecida pelo
doseamento de progesterona em 5 amostras de sangue intervaladas de 3 dias. As ovelhas foram
inicialmente sujeitas a um tratamento de sincronização do estro e indução da ovulação, através da inserção de esponjas vaginais com 40 mg FGA (acetato de fluorogestona, Intervet) durante
12 dias e injecção i.m. de 500 UI de PMSG no momento da sua remoção. Trinta e duas horas
após a remoção das esponjas (REV) e durante um período de 26,5 horas, recolheram-se
amostras de sangue de 4 em 4 horas, para doseamento da hormona luteinizante (LH) através do método E.L.I.S.A., utilizando o kit comercial Reprokit. O pico pré-ovulatório (LH) em cada
animal foi identificado como o valor mais elevado de unidade de densidade óptica (u.d.o.)
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situado entre valores basais, permitindo determinar o intervalo REV-LH. Os coeficientes de
variação intra-ensaio e inter-ensaio, respectivamente de 4,6 e 8,76 %, foram determinados num
total de 70 amostras doseadas em duplicado em seis sessões (Cavaco Gonçalves et al., 1997).
Na colheita de sangue realizada 42 horas após REV foi igualmente doseada progesterona para
confirmação da luteólise. Esta hormona foi doseada por R.I.A. em fase sólida utilizando kits comerciais (Amerlab, DPC) apresentando coeficientes de variação intra-ensaio e inter-ensaio
de 2,38% e 2,02%, respectivamente. A confirmação da resposta ao tratamento de indução da
ovulação foi efectuada por laparoscopias realizadas cerca de 7 dias após a realização dos
Para estudar a dilatação do canal cervical utilizaram-se quatro fármacos, isoladamente, ou em associação: o antagonista da progesterona (P4), aglépristone (Alizine, Virbac), um
preparado comercial de ocitocina (Oxitup, Helsinn), o análogo sintético da prostaglandina E1
(PGE1), misoprostol (Cytotec, Searle) e o agonista dos receptores β -adrenérgicos, sulfato de
terbutalina (Bricanyl, Astra), todos eles administrados por via transvaginal e depositados
próximo do os cervical, instilados com seringa, ou por nebulização através de aplicador próprio
no caso particular do Bricanyl. As doses administradas por animal e por tratamento foram de
0,15 g de aglépristone em 5 ml de excipiente oleoso, 20 UI de ocitocina contidas em 2 ml de
excipiente e 2,5 mg de sulfato de terbutalina contidos em 10 nebulizações. O misoprostol foi administrado na dose de 400 µg, por dissolução de 2 comprimidos de Cytotec, em 2,5 ml de
soro fisiológico. Os tratamentos foram realizados às 36 e 56 horas após REV aos animais
pertencentes aos grupos tratados, após o que se procedeu à avaliação da penetrabilidade
cervical quer nos animais tratados quer nos testemunha.
3. Grupos: Dos 77 animais inicialmente sujeitos ao tratamento de sincronização de estro
e indução da ovulação, apenas 56 foram utilizados para as leituras de penetrabilidade cervical
(Tabela 1). Os restantes 11 animais foram excluídos por motivos vários, tais como perda da
esponja vaginal, ausência de ciclicidade, doença ou morte.
Tabela 1- Grupos e número de animais submetidos aos vários tratamentos
4. Penetrabilidade cervical: Após a abertura do canal vaginal, por meio de um espéculo
munido de uma fonte de luz, foi introduzida uma vareta com 3,5 mm de diâmetro, com a qual se
tentou cuidadosamente flanquear o os cervical. O grau de penetração da vareta no cérvix, foi
medido em cm pela distância entre a extremidade introduzida no canal cervical e a marcação
efectuada no momento da leitura, referenciada à abertura do espéculo vaginal ao nível da vulva.
Trinta e seis horas depois da remoção das esponjas (momento 0) realizou-se a primeira
avaliação, quer nos animais tratados quer nos testemunha, após o que se procedeu à
administração do fármaco aos animais dos grupos tratados; 15, 30, 60, 90 e 120 minutos depois
foram realizadas novas avaliações. Cinquenta e seis horas após a remoção das esponjas
procedeu-se a nova avaliação da penetrabilidade cervical (momento 0) e nova administração da
droga aos animais dos grupos tratados, sendo esta avaliação repetida aos 15, 30 e 60 minutos a
Utilização da associação misoprostol e sulfato de terbutalina sobre as características seminais:
Estudos in vitro: Testou-se o efeito do misoprostol, sulfato de terbutalina e sua
associação no sémen ovino refrigerado, avaliando as características seminais.
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MISOPROSTOL: Foi dissolvido 1 comprimido de Cytotec (200 µg de Misoprostol) em
1,25 ml de soro fisiológico. A solução obtida foi posteriomente filtrada com um filtro de 0,45 µm
(Sartorius-Ministar-600 kPa Max) obtendo-se um volume filtrado de 0,6 ml. Este volume foi adicionado a 250 µl de sémen de ovino diluído refrigerado (+15º C; sémen tratado C). Num
volume de 250 µl de sémen ovino refrigerado adicionou-se 0,6 ml de soro fisiológico (sémen
testemunha T). Procedeu-se então à avaliação aos 0, 30 e 60 minutos, quer no sémen C quer no
sémen T, dos seguintes parâmetros: mobilidade massal, % de espermatozóides móveis e % de
espermatozóides vivos (coloração vital-eosina nigrosina).
SULFATO DE TERBUTALINA: A 250 µl de sémen refrigerado diluído adicionaram-se 2,5
mg de sulfato de terbutalina, contidos em 10 nebulizações de Bricanyl (sémen B). Como
sémen testemunha (sémen T) foram utilizados 250 µl de sémen refrigerado diluído. A
metodologia e parâmetros avaliados foram os acima referidos.
MISOPROSTOL + SULFATO DE TERBUTALINA: Para a preparação do sémen tratado com
a associação de misoprostol e sulfato de terbutalina (sémen CB) utilizaram-se 250 µl de sémen
refrigerado diluído aos quais se adicionaram 0,7 ml do filtrado de Cytotec preparado da forma já
descrita e 2,5 mg de sulfato de terbutalina. Como testemunha (sémen T) foram utilizados 250 µl de sémen refrigerado diluído aos quais se adicionaram 0,7 ml de soro fisiológico.
Análise estatística: Os resultados obtidos foram analisados por ANOVA/MANOVA e teste
das menores diferenças significativas (LSD) no ensaio das penetrabilidades, e pelo teste de χ2
no ensaio in vitro, utilizando o programa informático Statistica (Statsoft, Inc. 1995). O nível de significância utilizado foi de P ≤ 0,05.
RESULTADOS
A administração da associação misoprostol / terbutalina às 36 horas após REV conduziu
a um aumento significativo da penetrabilidade cervical aos 15 minutos. Nos restantes
tratamentos não foi encontrado nenhum efeito sobre este parâmetro (tabela 2; gráfico 1).
Tabela 2. Efeito dos tratamentos aplicados a partir das 36 h após
REV, sobre a penetrabilidade cervical (média ± ep, em cm).
17 22,5 22,5 a 22,9 * 22,9 a 22,8 a 23,0 *
± 0,68 ± 0,74 ± 0,82 ± 0,81 ± 0,86 ± 0,94
± 0,81 ± 0,87 ± 0,54 ± 0,79 ± 0,85 ± 0,76
± 0,63 ± 0,89 ± 0,94 ± 0,73 ± 1,07 ± 1,22
± 0,66 ± 0,78 ± 0,95 ± 0,66 ± 0,73 ±1,06
± 0,82 ± 0,53 ± 0,37 ± 0,81 ± 0,71 ± 0,91
14 22,5 1 23,0 b2 23,4 *2 23,5 b2 23,6 b2 23,6 *2
± 0,82 ± 0,89 ± 0,98 ± 1,27 ± 1,48 ± 1,20
Nas colunas, letras diferentes correspondem a diferenças significativas (P<0,05) * Médias na mesma coluna, médias diferentes para P=0,07. Nas linhas, números diferentes correspondem a diferenças significativas (P<0,05)
A penetrabilidade inicial não foi diferente entre os vários grupos. Aos 15 minutos
verificou-se um aumento significativo para o grupo aglépristone e para a associação misoprostol
Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307
/ terbutalina, em relação ao grupo testemunha. Esta diferença manteve-se no caso da
associação misoprostol / terbutalina, aos 60 e aos 90 minutos. O grupo aglépristone foi também
significativamente superior à testemunha aos 90 minutos (tabela 2; gráfico 1).
Gráfico 1. Efeito dos tratamentos sobre a penetrabilidade cervical
Quanto aos tratamentos efectuados 56 horas após REV apenas foi observado um
aumento significativo da penetrabilidade cervical no grupo tratado com a associação misoprostol
/ terbutalina logo aos 15 minutos (tabela 3; gráfico 2).
Tabela 3. Efeito dos tratamentos aplicados a partir das 56 h após
REV, sobre a penetrabilidade cervical (média ± ep, em cm).
Nas colunas, letras diferentes correspondem a diferenças significativas (P<0,003) Nas linhas, números diferentes correspondem a diferenças significativas (P<0,05)
Na comparação dos vários grupos com o grupo testemunha, em cada momento de
observação após a administração dos tratamentos (15, 30 e 60 minutos), apenas foi observado
um aumento significativo da penetrabilidade do grupo misoprostol / terbutalina (Tabela 3;
Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307
Gráfico 2. Efeito dos tratamentos sobre a penetrabilidade cervical
Nos animais pertencentes aos vários grupos em estudo (n=56) não foram observadas
diferenças significativas relativamente ao intervalo remoção das esponjas vaginais - pico de LH (REV-LH), cujo intervalo médio foi de 46,13 ± 7,57 horas.
Estudos in vitro: O sémen tratado com misoprostol apresentou um valor médio (leituras
aos 0, 30 e 60 minutos) de 59 % de spz vivos e 66,3 % de spz móveis, valores estes que não
foram diferentes dos observados no sémen testemunha (69,2 % e 66,6 %, respectivamente). O
tratamento do sémen terbutalina não conduziu igualmente a diferenças significativas, quer para
a % de spzs vivos (78 % vs. 74,2 %), quer móveis (67 % vs 65,7 %). A associação dos dois
fármacos (misoprostol mais terbutalina) não influenciou significativamente qualquer dos
parâmetros em estudo, tendo a % média de spzs vivos e a % média dos spzs móveis sido de 76
% e 65 % no grupo tratado e de 77 % e 66,3 % no sémen testemunha.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A administração de 20 UI e 5 UI de ocitocina i.v., algumas horas antes da inseminação
artificial, permite que o cérvix seja flanqueado pelo pistolet de inseminação e que o sémen seja
depositado no útero, havendo em contrapartida uma redução drástica na fertilidade devido a
contracções tetânicas do útero (Sayre e Lewis, 1996; Sayre e Lewis, 1997), cuja duração é
função da dose administrada. Mesmo com a dose de 5 UI por via i.v., já se verifica tetania e
flanqueamento do cérvix somente em 60% dos animais. A administração de 20 UI de ocitocina
por via transvaginal (Barbas et al., 1999) ou 1 UI i.v. (Jones et al., 1969), não afecta a
fertilidade. No nosso trabalho, a administração transvaginal de ocitocina (20 UI) não conduziu a
um aumento da penetrabilidade cervical ao longo do período de observação, nem às 36 h nem
às 56 h pós REV. É provável que a diferença de resultados observados possa ser justificada
pela via de administração utilizada que não permitiu uma acção farmacológica da ocitocina,
contrariamente à que é detectada quando se utiliza a via intravenosa. Estes trabalhos, no seu
conjunto, sugerem que a dose e a via de administração de ocitocina podem afectar de forma
diferente (e contraditória) quer a dilatação cervical, quer a fertilidade.
Na ovelha o cérvix tem a capacidade endógena de produzir prostaglandinas cuja
concentração aumenta significativamente no momento do parto, coincidindo com o amolecimento
cervical (Ellwood et al., 1980, cit. Owiny e Fitzpatrick, 1992), e sendo indispensáveis a este
processo, o qual não se verifica após inibição da sua síntese (Ledger et al., 1985; Owiny e
Fitzpatrick, 1992). De acordo com O´Brien (1995) parecem existir diferenças entre os vários
tipos de prostaglandinas, sendo as prostaglandinas da série E mais útero-selectivas e
Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307
superiores às prostaglandinas da série F, no amolecimento cervical. A deposição de PGE2 na
vagina ou cérvix da mulher, ovelha, égua ou vaca origina um amolecimento e dilatação cervical
in vivo, independentemente do estadio fisiológico e das concentrações de progesterona (Owiny
e Fitzpatrick, 1990; Stys et al., 1981, cit. Lavoir e Betteridge, 1996), verificando-se igualmente
um aumento da contractilidade uterina no caso dos bovinos (Lavoir e Betteridge, 1996). Na
mulher, a aplicação antes do parto de prostaglandinas no cérvix - PGE1, PGE2, PGF2, PGI2 e 6-ceto-PGF1α - induz a dilatação cervical (Bryman et al., 1986; Nunes et al., 1999). Todas elas
actuam através da diminuição da actividade contráctil da musculatura cervical, sendo a PGE2
aquela que apresenta uma actividade inibidora mais potente e em doses mais baixas (Bryman et al., 1986). No caso particular da ovelha, a PGE2 administrada localmente no final da gestação,
provoca um aumento da extensibilidade cervical 4 vezes superior às testemunhas, mas sem
induzir alterações nas contracções uterinas (Ledger et al., 1983; Owiny e Fitzpatrick, 1990).
Nesta espécie, não existem estudos sobre o efeito da PGE2 na actividade muscular do cérvix,
mas sabe-se que também nela as prostaglandinas facilitam a dilatação cervical, ao induzirem a
libertação de colagenases, as quais promovem o amolecimento do colagénio (Ellwood, 1980;
Osmers et al., 1991; Sayre e Lewis, 1997). O misoprostol, um análogo sintético da PGE1, tem
mostrado ser altamente eficiente na indução da abertura cervical e no estímulo da actividade
contráctil do miométrio (Nunes et al., 1999; Katz et al., 2000). No nosso trabalho a administração local de 400 µg de misoprostol, se conduziu a eventuais alterações na estrutura
cervical, estas não foram suficientes para originar um aumento da penetrabilidade cervical ao
A administração de agonistas β 2-adrenérgicos induz relaxamento ao nível do miométrio
(Bramuglia et al., 1993, cit. Ramos e Silveira, 2000), tendo a administração de clenbuterol
reduzido para 1/3 a força necessária para promover o estiramento das tiras cervicais in vitro (Owiny e Fitzpatrick, 1992). Enquanto que alguns agonistas dos receptores β -adrenérgicos
inibem as contracções do músculo cervical (terbutalina), outros como a isoprenalina, estimulam essa actividade (Bryman et al., 1984, 1986). No nosso trabalho, a administração do β -
adrenérgico terbutalina não conduziu a um aumento significativo da penetrabilidade em qualquer
De acordo com Chwalisz (1994) os antagonistas dos receptores da progesterona têm
capacidade de inibir as contracções da musculatura cervical. A sua acção a este nível parece
ser independente das prostaglandinas, mas depender da acção local das citoquinas e outros
agentes quimiotácticos sintetizados pela mobilização dos granulócitos polimorfonucleados,
macrófagos e mastócitos, mobilizados para o cérvix em consequência da administração de
antiprogestagénios (onapristone e mifepristone) e inibidores da síntese da progesterona como o epostane (Chwalisz, 1994). A redução do número de receptores α2-adrenérgicos ao nível do
cérvix após a administração destas drogas poderá também explicar a sua acção inibidora das
contracções cervicais (Kovacs e Falkay, 1993). Por outro lado, a administração de antagonistas
da progesterona induz também dilatação cervical, nomeadamente na mulher grávida (Elliot et al., 1998; Stenlund, et al., 1999) a qual parece resultar do aumento de adesividade dos
granulócitos ao endotélio capilar (Kemp et al., 1998) ou, de acordo com Ogawa et al, (1998), da
estimulação pelas citoquinas inflamatórias do muco cervical da produção de ácido hialurónico
nos fibroblastos cervicais. A administração do antagonista da progesterona onapristone
provocou uma retenção espermática cervical, impedindo a progressão dos espermatozóides para
o oviducto e a fertilização (Cavaco Gonçalves et al., 1997; Cavaco Gonçalves e Horta, 1997), o
que parece resultar de alterações quantitativas e qualitativas da actividade mioeléctrica uterina
induzidas pela droga (Gonçalves et al., 2001). No nosso trabalho, a administração de
aglépristone às 36 horas após REV, originou um aumento significativo da penetrabilidade
cervical aos 15 e aos 90 minutos comparativamente ao grupo testemunha, não existindo
referências da sua utilização na espécie ovina com este objectivo.
De todos o tratamentos utilizados, a associação de misoprostol com terbutalina foi o que
provocou maior penetrabilidade cervical, que se manteve ao longo do tempo, e não afectou as
características seminais in vitro. Verificou-se uma acção sinérgica das duas substâncias
utilizadas, uma vez que quando aplicadas isoladamente não causaram qualquer efeito. Estes
resultados sugerem existir um efeito benéfico do tratamento sobre o relaxamento cervical,
Barbas et al., (2001). Proceedings do III Congresso Ibérico de Reprodução Animal, pp. 299-307
sendo ainda necessário confirmar este efeito em ensaios de campo sobre os resultados da
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Studiul asupra aplicabilit ˘atii sistemului deachizitie biometric în stabilirea parametrilorpsihomotorii pentru posesorul unei set deAlegerea lotului de subiecti a avut în vedere structurarea unorgrupuri care prezint ˘a particularit ˘ati din punct de vedere alanalizei avute în vedere. În acest sens au fost selectionatiindivizi de nationalit ˘ati diferite precum si cu anumite grade de
DNA and Protein Synthesis – Grade 10 Ohio Standards Lesson Summary: Connection: In this lesson, students will understand the role of DNA in protein synthesis. The relationship between protein Life Sciences synthesis and the characteristics of an organism will be analyzed through an activity that allows students to model the process . Explain the genetic mecha